As demandas do Movimento Ecológico Gaúcho
frente ao colapso da gestão ambiental do Estado
A
situação ambiental global é uma das piores das
últimas décadas. No RS a catástrofe ambiental que
resultou na morte de mais de 80 toneladas de peixes no Rio dos Sinos e
as 40 toneladas no Arroio Fragata em Pelotas, apenas ilustram a grande
fragilidade e desestruturação dos setores de controle
ambiental, ou seja, tornou-se flagrante o "Apagão Ambiental" por
que passamos.
A
natureza agoniza no Rio Grande do Sul, em grande parte pela
desvalorização da gestão ambiental, com elevada
rotatividade de secretários e seus CCs (cargos em
comissão), estes em número injustificável, o que
se reflete na descontinuidade de políticas, programas e
ações. A fragilização também tem seu
componente deliberado, quando setores de comando da economia
gaúcha interferem, com a aceitação dos governos
estaduais, no afrouxamento de pseudo-barreiras às atividades
econômicas como silvicultura e irrigação.
Nos
últimos seis anos, a SEMA (Secretaria do Meio Ambiente) passou
por seis secretários, sendo três destes candidatos a
deputado estadual não eleitos. Existem setores da FEPAM
(Fundação Estadual de Proteção Ambiental)
que já perderam quase 50% dos técnicos que foram
aprovados em concurso realizado há cerca de cinco anos, os quais
acabaram desistindo do órgão devido aos
baixíssimos salários e à tendência de
fragilização ou partidarização das
decisões quanto aos licenciamentos.
Além
disso, a FEPAM vem perdendo, paulatinamente, o pouco que tinha de sua
autonomia técnica, acostumando-se a ter que dizer quase sempre
"sim" aos empreendimentos. Para tal condição mais
autoritária no órgão, mudaram-se as regras no que
se refere à nomeação do Diretor técnico,
sendo de cunho político, ao invés de
eleição como consta no estatuto da
Fundação. No que toca ao DEFAP, o órgão
está em situação pior do que a FEPAM pela
ausência crônica de funcionários e de
infra-estrutura (fiscalização precária,
ausência de quadro funcional para acompanhar os plantios
compensatórios), com contratação emergencial por
meio de medidas compensatórias, CCs e outros tipos de
terceirização, sendo os salários mais achatados do
que o órgão anterior.
A
situação é tal que as áreas protegidas
(Parques e APAs ) possuem menos funcionários do que há 25
anos atrás. O setor das UCs (Unidades de
Conservação) está com a maior parte dos
funcionários (guardas) em idade de aposentadoria e espera seu
primeiro concurso desde a criação da SEMA. Alguns parques
com mais de mil hectares (Parque Estadual do Espinilho, Parque Estadual
Sarandi) continuam sem nenhum guarda. A extensão de áreas
protegidas no RS é a menor entre os Estados da Região
Sul, com menor número e menor extensão.
As
UCS de proteção integral atingem somente 0,68% do Estado.
A Fundação Zoobotânica, que já teve grande
parte do corpo funcional de técnicos e pesquisadores
valorizados, vê a perda crescente de técnicos novos e a
saída progressiva dos aposentados. Os fundos ambientais
(FUNDEFLOR – Fundo de Desenvolvimento Florestal e FEMA –
Fundo Estadual de Meio Ambiente) ficaram contingenciados em mais de 90%
ou não foram utilizados também pela falta de suas
estruturações. O DRH, além de similar
situação estrutural ao DEFAP e FZB, sofre mais por ainda
não dispor das Agências e dos Planos de Bacias
Hidrográficas; condições fundamentais,
senão vitais, à gestão das águas no Estado.
A
despeito da grave situação da SEMA, denunciamos que
alguns setores governamentais ou de setores importantes da economia
organizam movimentos para maior fragilização do
órgão. Os governos do Estado, que não tem
tradição em encarar meio ambiente com profundidade, agora
aderiram ao senso comum da panacéia da vinda do capital
globalizado desenvolvimentista, pela grande silvicultura,
agronegócio ou indústrias pesadas, considerando o meio
ambiente um entrave. O quadro de fragilização deliberada
da gestão ambiental para favorecer setores econômico ou
empresas fica evidenciado com as polpudas doações (1,34
milhões de reais) das empresas de celulose aos mais de 70
candidatos nas últimas eleições de 2006.
Na
atualidade, a governadora Yeda Crusius declarou que quer destravar na
esfera ambiental questões como irrigação e
silvicultura. Como fica a SEMA, que tem como titular uma
técnica, com doutorado, que demonstra domínio e muita
experiência na área, diante das tentativas governamentais
em derrubar barreiras ambientais? Impera esclarecimento à
sociedade sobre o episódio que envolveu o último diretor
técnico e o Presidente da FEPAM, no caso da mortandade de peixes
na Bacia do Sinos.
Queremos
que a SEMA e o governo do Estado abram espaço para a sociedade,
demonstrando uma visão sistêmica, permitindo amplo debate
e esclarecimento entre desenvolvimento x proteção
ambiental, fortalecendo o setor de licenciamento adotando
princípios como biodiversidade e sustentabilidade em suas
políticas governamentais, resgatando as vocações
naturais do RS de forma diversa e descentralizada.
Para
promover o diálogo das organizações ambientalistas
da sociedade civil, solicitamos ao atual governo a
exposição quanto aos programas e ações
referentes às seguintes áreas, seguidas de detalhes
quanto ao tempo previsto para execução, bem como as
fontes de recursos:
- Abrir espaços de discussão com Sociedade Civil Ambientalista;
- Reforçar institucionalmente (FZB, DEFAP, FEPAM, DRH);
- Desenvolver políticas efetivas de utilização de fontes de energia limpas;
- Promover a Educação Ambiental;
- Respeitar, fortalecer e implantar efetivamente o Plano de Bacias;
- Formar as Agências Reguladoras de Bacias;
- Respeitar as indicações da APEDEMA conforme Resolução do CONSEMA
(107/2004);
- Evitar a contradição entre Legislação Ambiental e as ações do Governo;
- Reavaliar o SIGA-RS;
- Implementar e efetivar o FEMA-RS;
- Passar a observar em todas as ações do governo a ótica da Agenda 21 e o Protocolo de Kyoto;
- Elaborar política estadual de redução e
captação das emissões de Gases do efeito estufa,
para minimização do
aquecimento global;
- Respeitar o Zoneamento Ambiental da Silvicultura elaborado pela FEPAM e não emitindo a prorrogações e
liberação de novos TACs;
- Promover políticas de Saneamento Ambiental;
- Implementar Programas de Incentivo à Produção Agropecuária Ecológica;
- Implementar uma política de biodiversidade para o Estado.
Porto Alegre, 3 de abril de 2007
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