CARROS MOVIDOS A BIODIVERSIDADE
O
Planeta está sofrendo com o aquecimento, agravado pela
emissão de gases de efeito estufa provenientes, principalmente,
da queima de combustíveis fósseis. Apesar dessa
questão vital e de uma catástrofe eminente, quem controla o rumo que devemos tomar é a
direção da economia, onde o petróleo ainda
é o carro-chefe. No entanto, parece que estão convencidos -
finalmente - de que esse recurso fóssil tem limite, por isso a busca de uma alternativa tão lucrativa
quanto. São os "biocombustíveis"!
Já
podemos observar pelas ruas os carros movidos a Cerrado. Nas principais
metrópoles brasileiras toda frota de táxis e muitos
outros particulares já
são movidos à Floresta Amazônica. Tudo indica que
em breve os ônibus da capital gaúcha utilizarão
até Campos Sulinos misturado no diesel! Acontece que essa nem
tão nova tecnologia (em 1897 os automóveis
funcionavam com óleo de amendoim puro) só é
viável economicamente pois não inclui no seu custo a
exploração social e ambiental de sua
produção.
Grande parte
da destruição de importantes ecossistemas brasileiros
não é causada pelo petróleo, mas pelas
monoculturas da agroindústria, especialmente a da
cana-de-açúcar e a da soja (essa última foi
estranhamente escolhida como principal oleaginosa do programa nacional
de biodiesel, sua produção tem alto custo e sua
produtividade de óleo é a mais baixa, além de ser
um cultivo petrodependente em função das grandes
quantidades demandadas de insumos derivados de petróleo). A
taxa de crescimento da cultura da soja, projetada para os
próximos 15 anos, é de 176% para todas as regiões
produtoras brasileiras - numa estimativa baseada no impulso do
biodiesel. Nesse caso, a necessidade de mais área para lavoura
é tão óbvia quanto a conseqüência:
invasão e destruição de ecossistemas.
A
euforia dos "biocombustíveis" não é pela
salvação do Planeta. Na verdade, continua tudo igual e
quem está feliz da vida por isso tudo são as grandes
transnacionais do agronegócio (produtoras de insumos
químicos, herbicidas, sementes patenteadas, máquinas,
etc.), apoiadas de perto pela indústria automobilística,
a qual é beneficiada diretamente por esse novo "marketing
verde".
Do
óleo vegetal para o gás "natural", eis mais uma falsa
alternativa "ecológica". O gás é natural, sim, mas
é fóssil e finito, tal como o petróleo! Portanto,
sua queima também acrescenta gás carbônico na
atmosfera. Sem falar na dependência das frágeis
políticas externas e no estrago causado na floresta pela
construção de gasodutos. Dentre essas "alternativas"
disponíveis, ainda podemos falar do hidrogênio. A
queima propriamente dita de hidrogênio não gera CO2
nem outros poluentes, porém, a produção de
hidrogênio para que possa ser utilizado como combustível
demanda eletricidade. De onde vem a eletricidade? Das famigeradas
hidrelétricas, termelétricas, termonucleares...
Continuamos na estaca zero.
Qual
será a saída, então?! A saída é uma
só, e justamente aquela que a ordem econômica mais
abomina: mudança nos hábitos de consumo e, nesse caso em
específico, mudança nos nossos hábitos de
locomoção. Usar a bicicleta, andar mais a pé e
projetar as cidades para isso é a ordem do milênio! O
transporte público de qualidade pode não ser uma
realidade em boa parte das cidades brasileiras, mas em Porto Alegre
é satisfatório e por isso muitos deslocamentos aqui
feitos em automóvel poderiam ser evitados. Nos dias de hoje, as
cidades que não priorizam o transporte público,
bicicletas e pedestres são as que andam na contra mão da
história.
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