Biodiversidade pela boca: um banquete com produtos da Mata Atlântica, Pampa e Cerrado

  • Postado em 04/12/2014   por: Admin   Categoria:

Por Marco Aurélio Weissheime, RSUrgente – Política, Economia & Cultura

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Pão com urtiga e recheio de guabiroba e pão vegano de uvaia: dois dos quitutes com produtos nativos apresentados ao público, na manhã deste sábado, no Parque da Redenção, em Porto Alegre (Foto: Marco Weissheimer).

Que tal um lanche com pão de urtiga, patê de ora-pro-nóbis, pastel com pedaços de butiá e batida de juçara? Ou um almoço com almôndegas de ricota e erva-gorda, com refogado de raízes de dente-de-leão, quiche de caruru com queijo e salada de beldroega com queijo e iogurte? Quem foi à Feira Agroecológica da Redenção na manhã deste sábado (29) teve a oportunidade de saborear esses quitutes feitos com espécies nativas que não frequentam o nosso cardápio diário. Mais do que isso, pode experimentar novas possibilidades que podem mudar para (muito) melhor a nossa relação com a alimentação, a produção de alimentos e a própria prática de cozinha.

biodiversidadepelabocaA mostra Biodiversidade pela Boca, promovida pelo Ingá – Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, foi o palco de uma incrível diversidade de sabores, ingredientes e receitas, que tiveram ampla e entusiasmada aprovação do público. Foi uma verdadeira aula-banquete ao ar livre, com receitas com a biodiversidade nativa dos biomas Mata Atlântica, Pampa e Cerrado, que merece ser repetida e divulgada. O universo a ser descoberto é imenso. Afinal, o Brasil possui a maior diversidade biológica terrestre do mundo. Somente para o Rio Grande do Sul, incluindo o Bioma Pampa e a Mata Atlântica, assinala a publicação do Ingá para o encontro, já são citadas 200 espécies com fruto ou sementes comestíveis. Frutos como a Cerejeira do Rio Grande, a Goiaba Serrana, o Ingá ou o Pessegueiro do Mato, apenas para citar alguns.

O grosso da alimentação moderna, lembra o Ingá, está reduzido hoje a pouquíssimas plantas: 15 espécies fornecem mais de 80% da energia que o ser humano adquire pela alimentação; e somente quatro – arroz, batata, milho e trigo – são responsáveis por mais de 50% dessa energia. “Assim, estamos nos alimentando de uma variedade muito pequena de alimentos e, associado a isso, estamos nos limitando na obtenção de nutrientes, vitaminas, proteínas, antioxidantes e tantos outros compostos funcionais que auxiliam na manutenção da nossa saúde”, afirma ainda a publicação do instituto distribuída na mostra.

Cajuzinho de juçara, uma delícia da Mata Atlântica, feita com juçara e cacau envoltas por uma farofinha de castanha, amendoim e avelã.

Cajuzinho de juçara, uma delícia da Mata Atlântica, feita com juçara e cacau envoltas por uma farofinha de castanha, amendoim e avelã. (Foto: Coletivo Pitanga)

Uma das bancas mais disputadas da mostra foi a do Coletivo Pitanga, que reúne um grupo de cozinheiras que exploram outras formas de se relacionar com os alimentos. O conceito que orienta o trabalho do Coletivo é crítico do atual modelo de produção de alimentos: a monocultura e a produção em escala industrial além de limitarem nossa alimentação à pouca diversidade de cultivos, levam ao esgotamento do uso do solo, com um uso indiscriminado de agrotóxicos e insumos nas plantações. “Usamos preferencialmente alimentos orgânicos, nativos e também hortaliças não convencionais, fazendo uma oposição à mesmice que domina nossa alimentação diariamente”. As cozinheiras do Pitanga trabalham sob encomenda, realizando jantas especiais, cursos e oficinas de cozinha vegana.

Merece destaque também o Viveiro Bruno Irgang, que trabalha desde 1997 com o conhecimento da flora nativa regional e a produção de mudas de plantas nativas do Rio Grande do Sul, em particular as espécies estratégicas para a restauração da biodiversidade. O Viveiro está instalado num pequeno espaço atrás do Diretório Acadêmico do Instituto de Biociências da UFRGS.

Vale a pena conhecer, divulgar e experimentar esses trabalhos que mostram concretamente que outra relação com a produção, preparação e consumo de alimentos pode melhorar a vida e a nossa relação com a natureza.

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