Expedição botânica desvenda áreas de extrema relevância ambiental, e que correm risco, no Rio Pelotas, em Bom Jesus, RS

  • Postado em 09/02/2012   por: Admin   Categoria:

No início do mês de fevereiro deste ano, uma equipe de estudos botânicos do Instituto de Biociências da UFRGS, coordenada pelo Prof. Paulo Brack, que desenvolve o Projeto Documentação Pró- Biodiversidade do Rio Pelotas, encontrou mais áreas naturais com altíssimo valor em atributos de paisagem e biodiversidade, nos vales do rio que fica na porção norte do município de Bom Jesus, na região dos Campos de Cima da Serra. Esta área é considerada como de Extrema Importância para a conservação da biodiversidade, no Mapa das Áreas Prioritárias, do Ministério de Meio Ambiente (2007).

Estreito do Rio Pelotas junto a Foz do Rio Cerquinha em Bom Jesus, RS.

Entre os pontos que foram percorridos, destacam-se os rios Bandeirinhas, Cambarazinho e Pelotas, em sua maioria ladeados por matas com araucária e campos rupestres. No caso do rio Bandeirinhas, localizado a cerca de 30 km ao norte do centro do município de Bom Jesus, é muito grande a quantidade de cascatas circundadas por uma vegetação luxuriante, com presença de espécies raras e ameaçadas de extinção, como a própria Araucária (considerada Criticamente Ameaçada pela Lista Internacional de Espécies Ameaçadas da IUCN), o butiá-da-serra (que tem nome internacional de Wooly-Jelly-Palm, é Vulnerável, pela IUCN), a rainha-do-abismo, a jalapa-do-campo e outras dezenas de espécies de habitats particulares, associados a afloramentos rochosos, que não foram degradados intensamente pela ação humana. Apesar do baixo impacto, populações de indivíduos adultos de butiá e araucária, por exemplo, não estão se regenerando naturalmente e, inclusive, estão em declínio acentuado. Entre os objetivos da equipe está a realização de um vídeo e a publicação de um livro sobre a importância da flora regional.

No rio Pelotas, junto à foz do rio Cambarazinho, foi constatada a presença de um estreito (uma faixa de rio confinada em fendas de poucos metros), com corredeiras turbulentas, semelhante ao Estreito Encanados, que desapareceu, com a hidrelétrica de Barra Grande, em Vacaria, RS. A maior parte das áreas visitadas possui atributos que se encaixam nos chamados Monumentos Naturais, definidos pela Lei do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), porém carecem de políticas de conservação da biodiversidade.

Os membros da equipe buscam avaliar os atributos ligados à vegetação, considerando também a questão relacionada ao projeto da hidrelétrica de Pai Querê (292 MW), que poderá, brevemente, ter seu EIA-RIMA submetido à audiência pública, por parte do IBAMA. Cabe ressaltar que a obra poderia causar o alagamento de uma área de 6,14 mil hectares, sendo mais de 4 mil hectares de Florestas com Araucária (que hoje representa somente 2% de sua cobertura original) e de 1,2 mil hectares de campos nativos, em plena Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Além destas questões, existe a possibilidade de desaparecimento local (como o caso do queixada, que só é encontrado nesta região do RS), ou mesmo extinção de dezenas de espécies animais, com destaque a peixes e outros organismos de rios com corredeiras.

Paisagem com butiás próxima à cascata do Rio Banderinhas em Bom Jesus, RS.

A região dos Campos de Cima da Serra (em terrenos mais elevados e planos) já está vivendo a expansão acelerada da fronteira agrícola (monoculturas de soja, milho, maçã, pinus, batata e outras hortaliças) e (nos fundos de vale) a construção de inúmeros empreendimentos hidrelétricos, comprometendo irreversivelmente os campos nativos, as florestas, os butiazais, e os ecossistemas originais de rios.

A equipe não acredita que o Ibama possa encontrar argumentos sólidos que permitam mais um grande impacto ao rio Pelotas-Uruguai, representado por mais um empreendimento hidrelétrico, pois as demais quatro hidrelétricas já construídas, a jusante do ponto em questão, já causaram o trágico desaparecimento local de populações importantes de espécies de flora e fauna.

Paulo Brack, que também faz parte do InGá, destaca “até agora não houve o cumprimento do Termo de Compromisso da UHE de Barra Grande, que considerou a necessidade da implementação do Corredor Ecológico do rio Pelotas-Aparados da Serra”. E vê com indignação “mais um capítulo desta novela, fomentado pelo Programa de Aceleração do Crescimento, que prevê, em mesmo rio, a quinta hidrelétrica em série, jogando para escanteio os preceitos constitucionais mais elementares que protegem a Mata Atlântica, as espécies ameaçadas de extinção, os ribeirinhos e as alternativas energéticas que ganham vulto com a implementação de Parques Eólicos na região”.

Estes e outros temas ligados aos empreendimentos hidrelétricos na bacia do rio Uruguai serão tratados no IV Fórum sobre Impacto das Hidrelétricas, que ocorrerá entre 13 e 14 de março no Salão de Atos II da UFRGS, e que contará com o apoio do InGá e de outras entidades da Apedema, do RS.

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