Frei Sérgio Gorgen: A atitude da CTNBio é atitude de capacho das multinacionais

  • Postado em 30/08/2009   por: Admin   Categoria:

Entrevista com Frei Sérgio Gorgen, reproduzida do site

http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=40693

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) tem sido a
responsável pela entrada e cultivo de várias sementes transgênicas no
Brasil. No Brasil, segundo dados disponibilizados pela Assessoria e
Serviços e Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), existem no
mercado 202 sementes de milho transgênico.

Empoderada pelo governo, a Comissão representa hoje um grande
empecilho á luta de ambientalistas, agricultores, técnicos,
especialistas e advogados organizados em entidades e representantes de
movimentos sociais. Nesta entrevista, Frei Sérgio Gorgen, membro da
Via Campesina, define o papel da CTNBio como “de capachos” das
multinacionais. Também aponta os Estados como fomentadores da situação
em que hoje se encontra a agricultura, refém de interesses de pequenos
grupos econômicos.

Frei Sérgio participa do Seminário sobre Proteção da
Agrobiodiversidade e Direito dos Agricultores – Propostas para
Enfrentar a Contaminação Transgênica do Milho, que acontece esta
semana em Curitiba, Paraná.

Adital – O uso sem controle de agrotóxico é bastante notado na
Argentina e no México. Como está a situação do Brasil?

Frei Sérgio Gorgen – A situação do Brasil não é muito diferente. A
diferença, por exemplo, é que no Brasil e no México ainda tem uma
população camponesa extraordinariamente grande e espalhada por todo o
território nacional. Na Argentina, a população camponesa é menor e ela
está confinada em algumas regiões do país. Uma grande região é
totalmente tomada pelo agronegócio, o que facilita a ampliação dessa
tecnologia totalitária, porque ela vem exatamente numa situação de
limite da revolução verde. Num momento em que a Revolução Verde
prometia a solução de todos os problemas, ela gerou um problema novo
que foi o descontrole das ervas daninhas e das pragas, insetos e
fungos. O transgênico veio para resolver isso, mas não resolve.

Ele resolve num primeiro momento, mas cria novos . Por isso, esse
modelo de agricultura não tem solução. A solução da agricultura é uma
agricultura diversificada, produzida por muita gente, o que leva
fatalmente a reformas agrárias de grandes regiões de terra e de
grandes monoculturas.

O modelo e as empresas que impõem um modelo são as mesmas, tanto num
país como no outro.

Adital – A CTNBio alega que a questão é técnica, desconsiderando
outros argumentos apresentados por organizações da sociedade civil.

Frei Sergio Gorgen – Os argumentos da CTNBio não são científicos. O
argumento de que o milho não contamina mais de 100 metros não é
científico, é político. Porque cientificamente o milho transgênico
pode contaminar até nove quilômetros. Segundo: dizer que os eventos
são piramidados, ou seja, mais de um transgênico numa mesma planta que
é possível pela polinização cruzada, que isso não vai causar nada de
diferente, nada de avesso a natureza, ao meio ambiente, ao ser humano,
ninguém pode afirmar isso sem antes estudar. Então, isso não é
científico. A atitude da CTNBio é uma atitude anti-científica. É uma
atitude de capachos das multinacionais.

Adital – Por outro lado, há mais resistência e mais pressão vinda dos
movimentos sociais organizados?

Frei Sérgio Gorgen – É que agora nós já temos, depois de oito anos de
uso de transgênicos em grande escala no Brasil, noção dos problemas
que eles [os transgênicos] apresentam, que eles não são a salvação,
que são caros, que deixaram o agricultor dependente das
transnacionais. Por outro lado, a população urbana que achava que o
transgênico ia diminuir o uso de veneno e está vendo que não diminui.
Pelo contrário, está aumentando.

A população urbana quer alimento sem veneno. Então, acho que esse é
elemento que aos poucos vai se impondo. Vai chegar um momento que a
sociedade vai decidir o que ela quer. As transnacionais querem que
quando as pessoas estiverem consciência de que isso não presta, seja
um caminho sem volta. E nós temos que fazer com que haja rapidez
suficiente para que se tenha possibilidade de voltar atrás, que seja
possível fazer uma grande descontaminação dessas porcarias que estão
infestando os campos e as mesas das pessoas.

Adital – Dentro desse modelo, como fica o papel dos Estados?

Frei Sérgio – Os Estados não têm autonomia sobre as transnacionais. O
Estado deveria ser expressão da vontade do povo. Ele é expressão da
vontade dos grupos que controlam o capital. O Estado burguês está a
serviço da classe dominante. Já sabíamos há muito tempo. É importante
se dizer de novo: o Estado tem que estar ao lado do povo. Isso
significa dizer que não se manipula a vontade do povo, com muito
dinheiro, em épocas de eleições, que é o que as grandes empresas
fazem.

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