I Seminário de Agroflorestas e II Seminário de Frutas Nativas do RS proporcionaram debates e trocas de experiências
- Postado em 28/11/2012 por: Admin Categoria:
O segundo dia do encontro (22/11), realizado no Centro de Formação Sepé Tiarajú, em Viamão, foi dedicado a trabalhos em grupo para debater dificuldades, potencialidades e demandas sobre Sistemas Agroflorestais (SAFs). Cerca de 150 participantes, entre agricultores, Guaranis, quilombolas, técnicos e pesquisadores de diversas regiões do Estado participaram das discussões com grandes expectativas. Agricultores familiares, indígenas e quilombolas há muito tempo produzem e exploram de forma sustentável produtos da agrofloresta, em especial as frutas nativas, como forma de geração de renda, garantia de segurança alimentar e nutricional, contribuindo para a conservação da agrobiodiversidade. Porém, eles se deparam constantemente com dificuldades legais referentes ao manejo, comercialização e beneficiamento desses produtos.
O I Seminário de Agroflorestas do RS e o II Seminário de Frutas Nativas do RS é uma realização do projeto Fortalecimento das Agroflorestas no RS: formação de rede, etnoecologia e segurança alimentar e nutricional, executado pela EMATER/ASCAR-RS e UFRGS, através do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) e o Projeto Pró Frutas Nativas de Porto Alegre, desenvolvido pela ONG InGá, além da parceria da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), Embrapa Clima Temperado e ONG Sementes da Vida e os patrocínios do Banrisul, SDR, CNPq, Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e Secretaria do Meio Ambiente de Porto Alegre (SMAM) e o patrocínio do Banrisul.
De acordo com a professora do PGDR/UFRGS, Gabriela Coelho-de-Souza, está é uma oportunidade para propor demandas no sentido de orientar políticas públicas estaduais e municipais visando fortalecer a produção agroflorestal no Estado.
Abrindo as discussões da manhã, 12 agricultores apresentaram suas experiências com produção em agrofloresta. A família Bellé apresentou o trabalho que desenvolve na produção de sucos da floresta há cerca de 7 anos. Cultivam grande diversidade de espécies nativas e convencionais de forma orgânica, resultando em cerca de 300 produtos processados. A agricultora Franciele Bellé expôs sobre a dificuldade de obter o registro dos produtos. Até o momento conseguiram registrar somente os sucos de araçá, butiá, guabiroba, goiaba, maçã com açaí e uva. Esperam registrar outros sucos, como o de ananás, pitanga, jabuticaba e sete capotes. “Temos esperança de que a legislação facilite o registro dos produtos processados”, afirmou Franciele.
Os debates foram realizados dentro da perspectiva de quatro eixos – manejo, comercialização, beneficiamento e redes, resultando no levantamento de inúmeros problemas e demandas referente a Sistemas Agroflorestais . Nas discussões, os agricultores afirmaram que necessitam mais informação sobre legislação, para facilitar a regularização da atividade. Há falta de clareza e flexibilidade da legislação para manejo da mata nativa e das agroflorestas. Gostariam que fosse simplificado o registro e licenciamento dos produtos da agrofloresta e a legislação fosse diferenciada para agroindústria familiar. Foi sugerida a formação de um grupo autônomo de agricultores e instituições para garantir o fortalecimento do trabalho sobre SAF, mesmo nas trocas de governos. Além da necessidade de organização de banco de sementes para trocas locais e perpetuação das espécies e da busca pelo apoio dos consumidores.Uma das demandas propostas foi o incentivo através de recursos financeiros para implantação de unidades de referência em SAF agroecológico e cursos de formação para agricultores.
Outra importante questão versou sobre como incentivar o jovem a permanecer no campo, mostraram que formação em agroecologia, incentivo em trabalhar junto com a família, trocas de experiência e acesso a novas tecnologias contribuem para a sua permanência na propriedade rural. O estudante da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul, Yan Gusson, acredita que a agrofloresta é uma forma de cultivo mais atrativa para os jovens se envolverem no trabalho agrícola.
À tarde os grupos foram divididos por eixos: manejo, beneficiamento, comercialização e redes, reunindo todas as informações debatidas anteriormente. Algumas instituições convidadas abriram as discussões em cada grupo com apresentação de suas experiências. No grupo do Manejo, a SEMA apresentou alguns esclarecimentos sobre a legislação. No Beneficiamento, o agricultor João Matos de Nova Santa Rita, apresentou a caminhada em regularizar produtos medicinais provenientes de sua agrofloresta medicinal e a Ecocitrus apresentou sua experiência na forma de organização das famílias envolvidas no beneficiamento de produtos. No debate sobre Comercialização, o Centro de Tecnologia Alternativas Populares (CETAP) apresentou o programa Sabores Nativos que está desenvolvendo no Estado para promover e valorizar as frutas nativas e o Opac Litoral Norte explanou sobre como estão se organizando para conseguir a certificação orgânica. No grupo Redes, o Opac Rama – Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana – mostrou como aproximadamente 80 famílias de agricultores ecológicos de Porto Alegre e Viamão estão construindo uma certificadora participativa para obterem o selo de produto orgânico.
Os resultados das discussões serão apresentados no dia 23, no Teatro Dante Barone (Assembleia Legislativa/RS em Porto Alegre). Neste mesmo dia, será entregue carta às autoridades e instituições competentes com propostas para incentivar e fortalecer iniciativas em Sistemas Agroflorestais.
O segundo dia de seminário encerrou com atividade de trocas de sementes e mudas entre os participantes, venda de produtos caseiros, ao som de violão e muita animação.
Simone Moro
Patrocínio: