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No Fórum Sobre o Impacto das Hidrelétricas no Rio
Grande do Sul, realizado nos dias 13 e 14 de julho de
2001, no auditório da Faculdade de Economia da UFRGS, em
Porto Alegre, foi discutida a problemática do impacto
ambiental das usinas hidroelétricas principalmente nas
bacias dos rios Uruguai (22 hidroelétricas) e
Taquari-Antas (54 hidroelétricas). Também foram
abordados as causas do aumento vertiginoso da demanda de
energia elétrica, que gira em torno de 5% ao ano.
Os rios são os corredores ecológicos, artérias de
vida, onde uma série de espécies animais e vegetais
está adaptada e interrelacionada a determinadas
condições de vazão dos cursos d’água, há
centenas ou milhares de anos. A alteração das
condições dos rios é algo irreversível e pode trazer
sérias conseqüências sociais, biológicas e
paisagísticas (e.g. Salto de Marcelino Ramos). Amplas
barreiras ecológicas estão sendo criadas.
Constatou-se nos debates realizados que os rios
permanecem sendo são vistos hegemonicamente pela ótica
de um recurso econômico por parte dos empreendedores,
sejam eles empreiteiras da construção de grandes obras
como pelas grandes empresas de produção de energia e
setores governamentais ligados à produção de energia.
Neste sentido, faz-se de grande importância a
realização de outros debates amplos e aprofundados, a
nível nacional, a fim de impedir tragédias ambientais
sobre a biodiversidade, em especial dos corredores
ecológicos representados pelos rios.
Torna-se necessário realizar-se estudos globais dos
impactos gerados pelas barragens em cada rio e em cada
bacia, de forma sistêmica e não fragmentada em cada
projeto isoladamente. É o que se chama de Avaliação
Ambiental Estratégica.
Existe uma série de incógnitas de como o novo ambiente
vai se comportar, como as matas em galeria e sua
comunidade vegetal e animal irão sobreviver. Foi
debatido principalmente os problemas realacionados ao rio
Uruguai, com a construção das usinas de Itá e
Machadinho, apresentando notáveis alterações em sua
vazão, principalmente a jusante das represas. Algumas
espécies de plantas aquáticas ( Salvinia sp. ) tiveram
crescimento explosivo no lago de Itá dificultando
inclusive a navegação. Várias espécies de peixes
exclusivos de cursos d’água com correnteza são
levados ao desaparecimento. Este fato parece não entrar
na contabilidade da ANEEL e as pessoas consumidoras não
se dão conta da gravidade do problema. O processo de
construção de barragens parece crescente em número e
dimensão. A demanda será sempre maior. Não existe
maiores investimentos na conservação e uso racional da
energia elétrica, bem como na busca de outras
alternativas de fontes de energia.
O processo de licenciamento é muitas vezes reducionista
e sofre também problema de competência de esferas
estaduais e federal. É necessário haver um
licenciamento misto e integrado sobre bacias que possuam
zoneamento prévio e diretrizes gerais para conservação
e uso dos recursos das grandes bacias dos rios.
O Fórum também proporcionou espaço para que a FEPAM da
SEMA-RS pudesse apresentar resultados prévios de uma
tentativa de estudo mais global sobre a bacia dos rios
Taquari-Antas, com resultados promissores no sentido
formar diretrizes mais sólidas quanto à localização
de barragens e quanto à cota de alagamento.
Concluiu-se que os condicionantes ambientais e sociais
prévios aos projetos devem ser mais debatidos. A
consulta popular é importante e fundamental a fim de
montar-se alternativas inclusive no que toca às
compensações relacionadas aos danos provocados pelas
hidrelétricas. Ficou evidente a necessidade de
definição de áreas prioritárias para a conservação
nos rios.
Entre os resultados do Fórum foi o encaminhamento da
formação de uma câmara técnica junto ao CONSEMA a fim
de avaliar estas questões.
Houve a participação de cerca de 250 pessoas das mais
variadas áreas ligadas ao tema em foco.
Os painelistas que realizaram apresentação foram
representantes da ANEEL (Agência Nacional de Energia
Elétrica), IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente), Secretaria de Minas e Energia, CEEE (Companhia
Estadual de Energia Elétrica), SEMA (Secretaria Estadual
de Meio Ambiente), FEPAM (Fundação Estadual de Meio
Ambiente), DEFAP (Departamento Estadual de Florestas e
Áreas Protegidas), Ministério Público Federal, MAB
(Movimento dos Atingidos pelas Barragens), além de
biólogos pesquisadores, responsáveis por estudos .
Notícias no AgirAzul
Forum toma posição sobre o impacto de hidroelétricas no RS
De: Inga
Date: 25/07/2001
Brasil
O Fórum sobre o impacto das hidrelétricas no Rio Grande
do Sul, realizado nos dias 13 e 14 de julho de 2001, em Porto Alegre,
organizado pelo InGa (Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais) e
Departamento de Botânica da UFRGS (Universidade Federal do Rio
Grande do Sul) teve como principais conclusões e
sugestões, a seguir:
Considerando-se que o País não possui uma política
energética que incorpore minimamente a sustentabilidade
ambiental e que favoreça fontes de geração menos
impactantes; como a racionalização do uso e
conservação de energia elétrica, sendo esta
conseqüência de uma tradição
autoritária e tecnocrática bem como de um modelo mundial
que privilegia mega-empreendimentos, sem consulta à sociedade;
Considerando-se que a atual forma de autorização para
implantação de empreendimentos de geração
elétrica sob a responsabilidade da ANEEL (Agência Nacional
de Energia Elétrica) constitui-se em um processo altamente
perverso e imediatista, sujeito à lógica do mercado,
possibilitando a instalação de usinas geradoras com forte
impacto ambiental e social, sem considerar a necessidade de
planejamento energético ambiental regional;
Considerando-se que os órgãos ambientais governamentais
do país, com raras exceções, carecem de estrutura
mínima e de diretrizes ambientais sólidas para fazer
frente ao processo de licenciamento, em todas as suas fases;
Considerando-se que as variáveis sócio-ambientais
são, geralmente, menosprezadas quando confrontadas a interesses
políticos e econômicos, no tocante aos aspectos de
avaliação de custos e benefícios dos
empreendimentos autorizados pela ANEEL;
Considerando-se que a Medida Provisória 2.152-2 e a
resolução do CONAMA n. 279, as quais envolvem aspectos de
simplificação do licenciamento ambiental, representam um
profundo retrocesso, indo contra a Constituição Federal,
ao interesse público e ao patrimônio natural brasileiro;
Considerando-se que a visão atrasada da tecnocracia
economicista, hegemônica no governo federal, mais uma vez imputa
a culpa pelo atraso de muitas obras, e parte da atual crise
energética, às exigências ambientais de
órgãos licenciadores e a medidas tomadas pelo
Ministério Público;
Considerando-se que a FEPAM da SEMA-RS vem iniciando estudos
importantes de zoneamentos ecológicos prévios na bacia do
rio Taquari-Antas, os quais devem servir de referencial para a
adequação dos projetos energéticos futuros, no
Estado e no País,
Conclui-se pela Necessidade de:
Repudiar a Medida
provisória 2.152-2 e a submissão do CONAMA,
através da resolução 279, no tocante aos artigos
que visam a simplificação do licenciamento e
redução de exigências ambientais nos futuros
empreendimentos de geração hidrelétrica,
solicitando-se a revogação da dita medida como forma de
não comprometer o Meio Ambiente das atuais e futuras
gerações;
Formar imediatamente um Grupo
de Trabalho, e posteriormente uma Câmara Técnica sobre a
temática Energia e Meio Ambiente junto ao CONSEMA-RS a fim de
tratar das diretrizes de uma política energética aliada a
proteção ambiental, promovendo fontes de energia
alternativas, bem como acompanhar situações mais
emergenciais quanto à implantação e monitoramento
dos principais empreendimentos de geração
energética no Rio Grande do Sul;
Tornar obrigatório e
urgente a realização de zoneamentos
sócio-ambientais prévios à
autorização para empreendimentos nas bacias dos
principais rios com potencial de hidreletricidade, assim como nas
regiões onde estão previstos empreendimentos de
geração de energia termoelétrica, através
de diretrizes sólidas, integradas entre as competências
estadual e federal, construídas em conjunto com os comitês
de bacia e demais setores sociais envolvidos;
Promover o entendimento e a
articulação entre os órgãos ambientais de
competência federal e estadual, envolvidos no processo de
licenciamento dos empreendimentos;
Exigir maior
isenção e independência das equipes técnicas
contratadas para elaboração de EIA-RIMAs;
Solicitar providências
quanto à necessidade de monitoramentos constantes nos principais
rios com barragens, em especial o rio Uruguai, o rio Jacuí e o
rio Taquari-Antas, como forma de verificar o estado de
conservação de espécies ameaçadas de
extinção de flora e fauna, pertencentes a ambientes
aquáticos e de margem, bem como monitorar as
variações na vazão dos cursos d’água
e as conseqüências ecológicas das mesmas;
Sugerir que os Comitês
de Bacia tenham maior envolvimento com a questão das
hidrelétricas e incorporem a participação dos
representantes do MAB (Movimento dos Atingidos pelas Barragens) entre
seus membros;
Impedir definitivamente a
possibilidade do governo brasileiro levar adiante o projeto de
implantação da UHE de Roncador, o que poderia provocar a
destruição irremediável do Salto do Yucumã,
o maior salto longitudinal do mundo, bem como parte do Parque Estadual
do Turvo, única unidade de conservação do RS onde
ainda são encontrados a onça e a anta em estado selvagem;
Exigir o cumprimento do Art.
162 da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, no
qual não é permitida a inundação da bacia
de acumulação das obras de hidreletricidade até
que seja assegurado o reassentamento e a indenização para
todos os atingidos;
Exigir que as licenças
de operação dos empreendimentos hidrelétricos
só sejam renovadas após a comprovação do
cumprimento das medidas compensatórias e outras, especialmente
relacionadas à solução dos problemas das
comunidades reassentadas;
Solicitar maior
transparência no processo de licenciamento, com
disponibilização de RIMAs através da Internet;
Realizar audiências
públicas anteriores aos EIA-RIMA, como forma de consulta
prévia às comunidades locais e a entidades de meio
ambiente. Exigir que projetos contenham estudos sérios de
alternativas locacionais para os empreendimentos;
Solicitar estudos de
compensação permanente às populações
atingidas por hidrelétricas, como o apoio financeiro a
agroecologia e a outras formas de reinserção
econômica sustentável, bem como a ações
necessárias de proteção ambiental nas bacias;
Solicitar estudos de
biodiversidade em ambientes ripários, com a
identificação de áreas de corredores
ecológicos que permitam a conectividade perene entre
ecossistemas representativos intra e inter domínios
biogeográficos;
Recuperar a área
original da malha de matas ciliares, em especial áreas
degradadas, que fazem parte dos tributários dos rios nas bacias
em que estão localizadas as hidrelétricas;
Manter a área de
preservação permanente em uma faixa mínima de 100
m como forma de reconstituir, pelo menos parcialmente, a biodiversidade
regional, entendendo-se que a redução da mesma compromete
a qualidade do manancial hídrico criado e a qualidade ambiental
da bacia como um todo;
Recomendar a
realização de cursos de aperfeiçoamento e
capacitação voltados às equipes técnicas
dos órgãos responsáveis pelos projetos de
geração de energia a fim de melhor adequá-los
às atuais exigências ambientais, viabilizando a
sustentabilidade dos sistemas ecológicos e das culturas humanas
locais;
Exigir que sejam tomadas
providências quanto a necessidade de diminuição das
perdas na transmissão e distribuição de energia,
as quais correspondem a cerca de 15% da energia que chega às
residências no Brasil;
Realizar encontros regionais,
nacionais e internacionais periódicos sobre o tema "Energia,
Meio Ambiente e Sociedade" com ampla participação, no
sentido da construção de diálogos e entendimentos
entre os setores governamentais, populares, técnicos e
empresariais, buscando-se caminhos comuns para a sustentabilidade, com
menores impactos a populações e à Natureza.
O "Fórum sobre o
impacto das hidrelétricas no Rio Grande do Sul" teve o apoio de
FEPAM (Fundação Estadual de Proteção
Ambiental , SEMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente- RS), Programa
RS-Rural da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Governo do
Estado do Rio Grande do Sul e Pró-Reitoria de Extensão da
UFRGS.
Participaram do evento
painelistas representantes de IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente), Ministério Público Federal, ANEEL
(Agência Nacional de Energia Elétrica), CEEE (Companhia
Estadual de Energia Elétrica), Secretaria de Minas e Energia do
RS, Secretaria Estadual de Meio Ambiente, FEPAM (Fundação
Estadual de Proteção Ambiental), DEFAP (Departamento de
Florestas e Áreas Protegidas), Comitê da Bacia do rio
Taquari-Antas, pesquisadores palestrantes envolvidos em estudos
ambientais, tendo contado também com a presença e
participação do público, representado por
profissionais técnicos, acadêmicos, empreendedores e
representantes de ONGs e movimentos sociais como NAT (Núcleo
Amigos da Terra/Brasil), MAB o NAT-RS (Núcleo Amigos da Terra),
o MAB (Movimento dos Atingidos pelas Barragens),a CLEPEI
(Comissão de Luta pela Efetivação do Parque
Estadual de Itapoã), além do InGa.
Última atualização: 19 fevereiro, 2003
Fonte: http://www.agirazul.com.br
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