Biodiversidade em Foco é espaço de debate entre concepções sobre o carvão

  • Postado em 07/10/2011   por: Admin   Categoria:

Biodiversidade em Foco é espaço de debate entre concepções sobre o carvão

“Há uma necessidade de se fazer uma revolução energética” com essas palavras Antenor Pacheco, técnico da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (Fepam), marcou a fala de sua palestra no Biodiversidade em Foco desta quinta-feira, 29, que teve como provocação o tema “queima de carvão mineral: o RS na contra mão”. Na sala ocupada por estudantes, engenheiros, técnicos e políticos, foi possível ouvir pontos de vista diversos sobre a questão do carvão mineral no Rio Grande do Sul. Pacheco trabalha há cerca de 30 anos na FEPAM na área de qualidade de ar, tendo realizado processos de licenciamento ambiental das termelétricas do RS.

Por que o estado estaria na contramão em relação ao carvão? A resposta é simples, e ela se refere à iniciativa de setores empresariais (FIERGS) no  Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) de ampliar a taxa limite de emissão de poluentes das termelétricas.  Segundo Pacheco, essa iniciativa é imoral; transferir a conta das empresas para a população é um ato de irresponsabilidade que gera graves consequências na sociedade. “Se o empreendedor poupa dinheiro e deixa a poluição sair, o dinheiro é poupado por ele, mas alguém vai arcar com outro tipo de custos”, enfatiza o técnico.

O carvão mineral é uma das fontes de energia mais poluentes que existem e causa diversas doenças respiratórias e cardiovasculares. Conforme alerta o ambientalista, a carga de poluente de uma usina termelétrica é muito grande. “Para queimar combustíveis fosseis, o mínimo que podemos ter é critérios, e me parece que esse é o tipo de política completamente equivocada, se adotarmos, vamos dar subsídios para nos envenenarmos”, alerta.

Além disso, a proposta de aumentar as taxas de emissão desrespeita um acordo firmado no passado. No estado do Rio Grande do Sul, conforme explicou o técnico, a questão do licenciamento das termelétricas avançou em 1996.  Por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta, que estabeleceu padrões de emissões de poluentes das usinas de energia movidas à carvão, foi possível a proposição de um programa estadual para desenvolvimento desse tipo de energia no estado, assim criaram-se as bases para Candiota, Jacuí e o desenvolvimento do setor.

Uma das grandes preocupações em relação à poluição das termelétricas se refere à emissão de metais volatizados e materiais particulados, como o mercúrio. Caso ampliem-se os limites de emissão poluentes no RS, estaremos retroagindo acordos já assinados há 15 anos, avalia Pacheco. “Quando se fala de controle de poluição, deve-se falar com muita responsabilidade, as consequências do não controle refletem-se em custos sociais”. Hoje, as doenças respiratórias têm um impacto de 30 milhões de reais ao SUS.)

Além das questões relacionadas à saúde, mais emissões de poluentes significam também ir na contramão das políticas de combate ao aquecimento global. O técnico da Fepam apontou que “está havendo no mundo queira ou não queira uma revolução energética, hoje o quilowatt de uma usina eólica já está no nível de uma usina termelétrica”. Passamos da era do carvão, petróleo, agora estamos indo para a energia limpa. Há necessidade de migração para eficiência energética.

O técnico, avaliando a história da utilização de energia desde o século XIX com a revolução industrial, aponta que hoje o país que deseja ser líder mundial precisa fortalecer políticas que criem condições para o terceiro milênio, “o Brasil deveria desenvolver energias limpas”, sentencia.

Contrapontos

Após a exposição de Pacheco o público estava inquieto, grande parte dos participantes do Biodiversidade em Foco do dia 29 tinham opinião contrária aos argumentos do ambientalista. Técnicos, engenheiros e políticos ligados ao setor energético e minerador da metade sul do estado fizeram algumas ponderações. O vereador de Butiá/RS, Dedé Tintas (PP) argumentou que o carvão não pode ser visto como “patinho feio”, pois existe uma relação social de muita importância nas cidades de mineração. Em Butiá, sem o mercado do carvão o orçamento da cidade passaria de 24 milhões para 10 milhões de reais. O vereador também de Butiá, Luís Ricardo dos Santos Vieira (PPS), ainda colocou que sem o carvão haveria 10 mil desempregados na região.

Mudança de paradigma

O coordenador geral do InGá, Vicente Medaglia, deixou claro que objetivo é problematizar os paradigmas atuais: “atualmente, a economia tem sempre  atropelado o meio ambiente”. E essa política permissiva em relação à poluição das termelétricas coloca em jogo a saúde da população. “O InGá, como representante da sociedade civil do Consema,  não vai deixar que as empresas apresentem a conta para a população”, enfatizou Medaglia. O coordenador também problematizou a questão a partir da filosofia da ONG, “existem coisas que não possuem preço [monetário], como a natureza e a vida humana, o sistema em que vivemos quer colocar preço em tudo e isso é uma afronta aos direitos humanos”.

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